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domingo, 21 de abril de 2013

Sobre o presente

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Pedaços meus no caminho,
como João e Maria.
Providência sem efeito,
o caminho já desfeito,
tal rota eu não refaria.
Quanto mais marco a trilha,
as pegadas do passado,
menos enxergo a vinda,
quase nada para a frente,
mais pareço longe ilha.
Inconstante cá, falha já,
um oco aqui, um buraco lá,
passo tremente, meio pasma,
corpo é matéria e fantasma.    

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domingo, 24 de março de 2013

Tropical I

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Céu plúmbeo,
um pintor depressivo.
A mim encanta
o carregar nas tintas.
Sol teimoso,
fura a tela,
amarela.
Se o sol canta,
se o céu chora,
outra aurora. 


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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Cronos

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

O tempo não faz acordos,
senhor de nossos destinos,
sentado em seu trono e Olimpo.
Arrojados a seus pés,
nós não passamos por ele,
ele, passando por nós:
“Não me importa quem tu és.”
Não nos ouve,
não nos vê,
seu olhar no infinito,
seu olhar na eternidade.
Ao longo de toda idade,
seus pés de nuvens e ferro,
marca-nos o corpo e o rosto,
com seu rosto jovem e eterno.
Inconsciente da força,
como onda gigantesca,
não há rogo que o torça,
arrasta o mundo na ida,
alheio a tudo que é vida.


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domingo, 20 de janeiro de 2013

Come me non c'e nessuno


Eliane F.C.Lima

Quero, novamente,
Rita Pavone.
A alegria adolescente,
o som estridente,
a dança fremente.
Bandeira quer tango.
Eu, se tristeza doente,
desespero crescente,
a alma gemente,
destino molambo
– insone –,
imploro por Rita Pavone.


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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Reveillon

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Seu pescoço olha o fora
e o fundo do mar: areia ou peixe.
Sua labuta todo dia,
vagabundamente.
Que lhe vale o 31 de dezembro?
Mais mar que o mar,
é onda o seu bamboleio,
cariocando.
Mareia o sol,
afunda aqui, surge alhures.
Patamente, não liga à Iemanjá.

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sábado, 1 de dezembro de 2012

Felicidade


Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ) 

Um travesseiro bom é chinelo velho,
almofada-mãe, a cadeira trono.
Uma bermuda larga é travesseiro bom,
é o filme antigo, é livro treslido.
Uma cadeira trono é a cama quente,
café com fumaça em inverno e avó.


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sábado, 10 de novembro de 2012

Permuta ou poema plurissignificativo

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Olho o morro.
O morro me olha.
Olhamo-nos.
Ele, pessoa, eu, morro.
Assim sei que vivo,
não morro.

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Atenção: como faço em Literatura em vida 2, me deu umas "cócegas" de professora em explicar o "plurissignificativo" do título, que se refere, sobremaneira, aos dois últimos versos. Significados:
1. Assim sei que eu vivo e eu não morro (verbo morrer).
2. Assim sei que eu vivo e não sou um morro (como ele).
3. Assim sei que ele é que está vivo e não é um morro.
Mas o texto inteiro admite a leitura personificada desse morro ou uma visão inteiramente subjetiva e, por isso, adulteradora sobre o morro por parte desse eu poético que enuncia.


domingo, 21 de outubro de 2012

Deia

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Ausculto a voz da velha.
Tão sábia, tão pré-arcaica.
Em mim, desde eu menina,
desde as cavernas está.
E me diz a vida,
o certo no meio do caos,
o abrigo no surto,
a calma na aflição.
Sussurra em meus sonhos,
dormidos ou despertos.
Exprime-se muda, telepática.
Só fala quando quer.

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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Poética


Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Rima rica:
dissesse o não conseguido;
o que a boca não fala,
não sabe.
Preciosa rima:
revelado o impossível,
herméticos lábios.
A raridade da rima:
dizer o inefável.

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domingo, 23 de setembro de 2012

Invisível paisagem

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Ao pé do Pão-de-açúcar,
do mar de domingo,
outro lugar, outro tempo.
Uma árvore vagabunda,
uma vila vagabunda,
casas vagabundas.
Vagabundo é meu coração:
sob esta paisagem global,
fareja um lugar medíocre,
em um tempo medíocre
da infância medíocre.


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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Salve 02 de setembro!

Domingo será dia 02 de setembro, aniversário de meu filho Gabriel. No dia 20-11-2009, saudosa dele, que estava longe, fiz um poema, que aqui transcrevo, para que ele leia no dia, junto com o resto da homenagem. Parece que, dada a sua importância, o nome do arcanjo da anunciação é pleno de comemorações. 

Gabriel
Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)
  
O amor nasceu em setembro.
Custou a chorar, não havia por quê.
Gordinho e cheiroso, como Eros,
veio para os braços, mitológico,
suas flechas acertadas desde o útero.
Apaixonada por ele, minha alma,
Psiquê conquistada,
rendeu-se feliz.
Anjo da anunciação,
anunciou-se a si mesmo
e me fez escrava do senhor,
daquele que chegava.



Do disco Amor de índio, a canção "Gabriel", de Beto Guedes e Ronaldo Bastos (recomendo a compra), era dedicada ao filho do primeiro, que hoje é músico. Lembro que esse disco saiu um pouco antes do nascimento de meu Gabriel, em 1978, e quando ele nasceu (1980), ainda fazia muito sucesso, embora o nome dele não tenha sido escolhido por isso. Na verdade, a música mais conhecida desse disco era "Sol de primavera", que, coincidentemente, dizia "Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos...". Ora, "a boa nova" prevista para setembro, para mim, era, justamente, o nascimento de meu rapazinho.




Agradeço ao cantor, ao YOUTUBE e a quem lá postou a linda canção (link).

sábado, 25 de agosto de 2012

Sequestro

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Dois patos sempre fazem o mar,
explosão nas pedras,
os morros ao fundo.
Seus mergulham e voltam
fazem o horizonte,
que azula ondas,
que azula e nuvens.

Dois patos fazem a areia,
seu beija-beija a água,
seu fofo e seco e conchas.
Dois patos somem a paisagem,
suas asas-fuga.
Levam ao paraíso.

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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Adversus

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Muitos anos,
só na cara!;
na lata!;
na marra!;
na raça!

Hoje? Coroa. 

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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Momento

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Torrente de palavras,
onda apocalíptica,
titânica, volumosa,
que avança
e invade
e engole
e consome;
azul cinza,
que explode,
além da praia,
além do controle,
seu turbilhão de espuma.

Torrente de palavras,
desde sempre onda,
à espera, à espreita,
atemporal,
em sua latência e fúria:
é poesia, quando afoga.

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sábado, 30 de junho de 2012

Surpresa

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Uma garça espreme sua brancura
na branqueza da areia,
longilínea, mas perto do mar,
bicos e penas, suspeitas ao sol.
Traços negros caminham na areia,
hesitantes.
Êxito do olhar.

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sábado, 16 de junho de 2012

Contato

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ).

Fale comigo pelo telefone:
ligue para onde não estou
e me encontrará ali.
Escreva para lugar nenhum.
Responderei à sua carta.
Mande um e-mail sem endereço.
Reenvio logo, logo.
Aguardo uma palavra,
uma só,
onde quer que eu não receba.

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domingo, 27 de maio de 2012

Mar

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Sozinha não estou:
o vento, mão de pluma,
veludo e carinho.
Sozinha não estou:
o Sol, ardência de vinho,
cumplicidade do vento,
envoltos no mesmo momento,
de duas carícias, uma,
amansam o que eu sou.

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sábado, 12 de maio de 2012

Variações sobre o tema I - Simbiose

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Dentro d'água, o pato é onda:
plácido, pena, plágio.

Dentro d'água, o pato é peixe:
fito, farsante, famélico.

Dentro d'água, o pato é pato:
marítimo, místico, mar.

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domingo, 22 de abril de 2012

Tártaro

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)


O que será que me saltou aos ombros,
e me arca a coluna,
Atlas vencido,
vergastado pelo mundo?
O que será que me assaltou o dorso,
me arca a alma,
o peso do universo,
férreo, mudo, implacável?
O que será que me saltou à vida,
me assaltou a vida,
me assassina a vida?


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domingo, 8 de abril de 2012

Ciclo

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

No colo de minha mãe,
sou criança aninhada,
embora meus fios brancos,
a pele leve enrugada.

Enroscada em colo-sonho
– minha infância eu componho –,
deitada nessa lembrança,
vejo a velhice-criança.

Convido a meus blogues Conto-gotas (link) e Literatura em vida 2 (link).

sábado, 24 de março de 2012

Matura idade

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Juventude é pensar: há um futuro,
quando tudo acontece,
completamente.
Pois, no futuro, se vive
plenamente.
E, jovem, se é feliz,
porque há um futuro
e o futuro não mente.
No futuro se é belo,
se é rico, se é magro,
se viaja, se ama
e se alcança o sucesso,
indubitavelmente.
O futuro é o sonho
e a juventude é o sonho,
inconsequente.
E o futuro chega.
Mas travestido de presente.
Empurra a beleza, a riqueza,
a magreza, a viagem,
o amor, o sucesso
para a frente.
Velhice é perceber:
não há futuro.
Simplesmente.

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domingo, 4 de março de 2012

Estertor

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Só preciso de cetim vermelho,
copo de bebida destilada,
em surdina, um blues gemido.
Uma sandália linda, salto muito alto,
como pontada no dente,
um pé sob a cama,
outro sobre a poltrona,
anéis espalhados por todo o quarto,
umas argolas, finíssimas,
embrulhadas na meia,
algemas arrancadas.
Preciso de um abajur aceso,
luz fraca, sem ferir o olhar,
mas deixar ver
sem esforço.
Um cheiro de perfume bom,
impregnado no lençol de seda,
na camisola, na renda rara.
De quem?

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domingo, 5 de fevereiro de 2012

Para

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Dentro de um útero-terra,
se esconde um feto-semente:
perdido em oco e negro,
achado em verde porvir.
Seu silêncio e segredo
guardam uma revelação:
o que romperá um ventre,
o que surgirá no entre.
Dentro da terra-barriga,
um ovo só, sua intriga,
fabula, fértil, um enredo.
Futuro tempo descerra
o que hoje é velação.
Surpresa? Quem lê a terra,
exegese de um crente:
ainda há de intuir
um vegetar conto-ação.

Espero sua visita, também, em Conto-gotas (aqui) e
Literatura em vida 2 (aqui).

sábado, 21 de janeiro de 2012

A urgência do amor

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Poemas de amor,
hoje, me surpreendem.
Palavras em língua estrangeira
os poemas de amor.
Entradas para um espetáculo passado,
os tais poemas de amor.
E um leve sorriso
– escárnio –
me aflora aos lábios,
ao ver o empenho
dos poemas de amor.
Páginas do calendário de 1810
são e serão, sempre,
os poemas de amor.

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domingo, 1 de janeiro de 2012

Pequenos poemas para um grande ano


Todos os poemas abaixo estão registrados
no Escritório de Direitos Autorias - RJ.

Fundamental

Eliane F.C.Lima

Da vida, a coisa boa:
café fumegante,
janela e horizonte,
o olho à toa,
vagando ausente,
entre passado e presente.

Fugacidade

Eliane F.C.Lima

A força da rosa é fraca
e nisso está sua beleza:
perde o belo no eterno,
ganha em sua incerteza.

Sobrenatural

Eliane F.C.Lima

Lua redonda e branca.
Pelos olhos,
célere,
entrou-me na célula.
Pelos eriçados,
sentei-me a uivar.

Sobrevivendo

Eliane F.C.Lima

A vida se perde
e logo a tristeza se acha:
coração se encaixa.


Verão

Eliane F.C.Lima

Lago frio e verde.
Noite, a vaidosa lua
mira a si tão nua.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Tempos de paz

Caras (os) amigas (os) visitantes,

Desejo a todas (os) a felicidade completa nas reuniões familiares que comemoram as festas de Natal e Ano Novo. Mas, principalmente, desejo que 2012 seja o ano da paz para todas (os) nós.
Eliane F.C.Lima

domingo, 18 de dezembro de 2011

Jardim

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Jardineiro natural
desfolha, pétala a pétala,
as rosas, amarelidão,
almas, assim, perfumadas,
fim de seu ciclo botão.
Almas e cor, desdobradas,
amarelo roseiral,
do corpo verde de planta,
renego de ar de santa,
para o bem ou para o mal,
seus espinhos, seu punhal.

(Faça uma visita a meu blogue Conto-gotas (aqui) e Literatura em vida 2 (aqui).)

sábado, 26 de novembro de 2011

Destino

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Pobre do mar
a esperar o rio.
Pobre do rio
a correr
para o mar.
Esperança de um,
destino de outro?
Querer-se-iam esse amor?
Ironia de um –
que sofre –
o nome “rio”?
Negação de outro,
carente de um prefixo:
“a-mar”?

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domingo, 6 de novembro de 2011

Da vida

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

De repente,
o mundo some,
há voragem,
há vertigem,
rodamoinho, ruína,
abismo e vendaval,
o caos, o nada,
sem nome.
Da direita à esquerda,
vai-se do sul ao norte.
É a vida temporal.
Sob a marquise do medo,
numa oração para a sorte,
pede-se a última gota,
a derradeira lufada,
se quer a saída rara.
De repente,
a vida para.

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domingo, 23 de outubro de 2011

No fim da curva

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Depois que eu morrer
vou andar pelas margens de um rio,
vagarosíssimo, quase lago,
esverdeado do mato em volta,
enormes árvores,
com trepadeiras torcidas,
que pendem até o chão.
Vou sentar ali,
meio frio,
uma névoa presa em tudo,
e adivinhar gotas,
movimento imperceptível,
que pulam das folhas,
fim da noite,
orvalho da madrugada,
um círculo no círculo maior
e outro maior e outro...
Olhar agudamente,
que uma morta não tem pressa.
Ver uma folha seca,
que navega,
tranquilamente, nesse rio,
vagarosíssimo.
Se desejar, descer o rio
sentada na folha,
que uma morta não tem peso.
E ver outros lagos,
que a correnteza encontra.
Pouca luz do sol,
teimosia do céu,
que as árvores,
imensas e abraçadas,
filtram, mesquinhamente:
uma cortina, tênue e esgarçada,
quer macular o rio,
acompanhada de uma flauta de anjo,
se anjo e flauta houver.
Mas, no verde e na paz,
só silêncio,
que uma morta não precisa de som.

Ainda edito o blogue Conto-gotas (link) Literatura em vida 2 (link). Chegue até lá.

domingo, 9 de outubro de 2011

Orfandade

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Urgência:
busco uma utopia.
Quem me empresta uma utopia?
Um colo de esperança,
um ninho de certeza,
aposta no futuro.
No céu, entre as nuvens,
não paira uma utopia.
No altar, não há uma utopia,
quero acender minha vela.
À noite, de joelhos,
faço uma prece vazia,
pois não há mais utopia.


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domingo, 18 de setembro de 2011

Estática

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Dedico este poema a Rafael Nolli (link do blogue)

O medo não vem da mão levantada,
bofetada em punho.
O medo não vem dos olhos raivosos,
que partem o corpo ao meio,
raio coriscante.
O medo não vem dos dentes rilhados,
que encostam os cães contra a parede.
O medo não vem da sombra negra,
silhueta de punhal à mão.
O medo vem das mãos cruzadas,
dos olhos baixos,
do silêncio covarde, envergonhado.

Aguardo sua simpática visita, ainda, a meus blogues Conto-gotas (link) e Literatura em vida 2 (link).

domingo, 4 de setembro de 2011

Flashback

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Magra menina,
aquela.
Magra vida,
mancha de sonho,
aquarela.
Olho triste,
feia menina
revela.
Um azul todo borrado,
sonho de menina,
tela.
Tanto medo,
hoje rima,
ela.

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sábado, 20 de agosto de 2011

Tradutor

Eliane F.C.Lima (registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Há uma carta.
Não diz nada,
coleção de palavras.
Quem lia
era meu coração,
escritor, poeta, iludido.
Ele lia “amor”,
onde havia “panela”,
“paixão”, onde “sapato”,
“eterno”, onde “saída".

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domingo, 31 de julho de 2011

Passado a limpo

Eliane F.C.Lima (registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Todo morto vira santo.
Nunca mais o dinheiro roubado,
a intriga contra o inimigo,
a vizinha mal falada:
discrição e gravidade.

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quinta-feira, 7 de julho de 2011

Felina

Eliane F.C.Lima (registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Tal qual os gatos, no frio,
sento-me ao sol.
O quente vem chegando,
manda o frio embora,
manda a ânsia embora,
embora a hesitação.
O quente traz as certezas,
a paz amornando a pele.
A sapiência é um gato.

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domingo, 19 de junho de 2011

Hosana

Homenagem a José Saramago (1922-2010)

Eliane F.C.Lima (Registrado no EDA - RJ)

Hosana

Sentado estava Deus, e absorto
– que Deus também tem dúvida e anseio.
E chega-lhe, de manso, em pleno horto,
um magro homem e senta ali no meio.

De imediato o deus o reconhece,
é Saramago, dele não se esquece.
O homem, mesmo vendo, não acredita
e se exaltar, à toa, ainda evita.

Mas o outro – a espera não foi vã –,
mesmo Deus, o coração aos pulos,
sorri de si, e mais dos homens fulos
que, no lodo, cospem ira anã.

Mostra as guirlandas postas pelos cestos,
a festa preparada ao José,
declama, decorados, os seus textos,
demonstra com clareza sua fé.

Diz-lhe que agradece a cada dia
a negação daquele deus cruento,
do que foi só malévolo invento,
daquilo que – por Deus! – não existia.

Negando as hipócritas mentiras,
o uso da falácia e do poder,
falsa verdade que sempre o traíra,
Saramago o estava a defender.

Manso poeta, o abraço às costas,
vê ao redor de si um outro homem,
e, sem se importar por quem o tomem,
envolve-lhe, cálido, as mãos postas.
(03-07-2010)


Aguardo sua visita em Literatura em vida 2 e Conto-gotas.

domingo, 5 de junho de 2011

Paz gustativa

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

À tarde, leite fervente com canela,
bolo de milho ainda morno.
E o mundo é bom,
as pessoas, fraternas e generosas,
a felicidade, eterna.
(Aguardo você em Literatura em vida 2 e Conto-gotas.)

(Continuo remetendo para o Longitudes, de Nydia Bonetti, poeta que postei em Literatura em vida 2. É maravilhar-se.)

domingo, 22 de maio de 2011

Poesia

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Móveis antigos não falam.
Quem fala sou eu,
ouvindo-lhes a voz secreta,
um murmúrio contínuo,
de muitos, do passado.
Lembram de tudo
e não contam.
Conto eu,
minha voz secreta,
meu murmúrio contínuo,
do presente.

domingo, 8 de maio de 2011

O seio

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Poema dedicado à minha mãe, um pouco antes de sua morte.

Hoje preciso de mãe mais do que nunca,
me enrolar em seus braços e tremer de medo.
Porque tenho medo mais do que nunca,
eu que nunca temi coisa nenhuma.
A maior solidão é a de não ter colo de mãe,
refúgio inexpugnável.
Naquele rosto frágil e delirante reconheço tudo:
a demência, o pavor, o escuro da insensatez.
De quem é esse rosto, minha mãe?
Não o seu, não o seu.
Onde o refúgio, onde o colo,
onde o seu olhar nesses olhos enlouquecidos,
nessa face envelhecida e tristonha,
nessa respiração arquejante,
nessas palavras vacilantes e sem nexo?
Onde a mãe?
Mãe é forte, é consolo, é abrigo.
Hoje sou eu que preciso ser forte
e onde a força?
Hoje sou eu que devo proteger
e onde o colo,
eu que choro fraca e amedrontada, recém-nascida sem alívio [de seio?
Ser sua mãe?
Em mim só cabe a pequenez de filha.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Monólogo II

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

A solidão envolve o ser humano
e o ser se vê preso pela corrente do sozinho.
A multidão congela o ser em uma ilha.
Barcos vão e vêm.
Mas uma ilha olha outra ilha, de longe e só.

A solidão é uma galáxia de estrelas.
E estrelas piscam suas luzes individuais.
Mandam mensagens, querem conversa,
mas ninguém responde...
E uma estrela olha outra estrela, de longe... e só.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

AVISO

Devido à preparação de mudança para o Rio de Janeiro - de volta a meu paraíso! -, durante, pelo menos, este mês, não haverá postagens novas. Agradeço a quem quiser visitar os poemas já editados. Mas, abaixo, uma quadrinha fevereira.

O retorno

Nascida em fevereiro,
sou
peixe de água doce.
Ainda não o fosse,
sou o Rio de Janeiro.
(06-02-2011)


sábado, 29 de janeiro de 2011

Família

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Mesa de pés de ferro,
o tempo, já azinhavre,
o tampo, vidro pesado,
os anos, já mais de cem.
Veio de avós de avós,
juntando história e matéria.
Pura ilusão, penso eu:
lembranças, sonhos, feitiços,
tudo volátil e enganoso,
tudo morto e enterrado.
Calam-se a mesa, seus pés
e o transparente tampo.
A matéria, sobrevida,
mas a história já mudou,
lembranças, sonhos, feitiços,
tudo, há muito, se calou.
Sobre o vidro, meu papel,
minha caneta e memória.
Minha poesia vive,
tal qual estes pés de ferro,
minhas avós desenterro,
comigo, um século vem.
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domingo, 16 de janeiro de 2011

Fim de caso

Eliane F.C.Lima

Eu andava cheirando o chão onde passavas,
como os cachorros.
Como mudou assim?
Junto as coisas que deixaste,
na fuga,
e faço xixi em cima.
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domingo, 2 de janeiro de 2011

Desejo de Ano Novo

Eliane F.C.Lima

Não sei o que se passa, de repente,
que ando procurando alguém ausente,
que ando procurando um sentimento,
pisando com esse passo vago e lento.

Um dia havia amor, isso havia,
sorri diversas vezes, algum dia.
A taça borbulhante em meu peito,
era esperança, fosse de que jeito.

Hei de encontrar atrás de alguma porta,
a esperança ainda não está morta,
ouço-lhe, ainda, forte a chamada.

Há uma senha, chave encantada:
quero abrir, com força, a porta certa,
hei de mantê-la, para sempre, aberta.
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domingo, 19 de dezembro de 2010

Iguaria

Eliane F.C.Lima

Hoje,
em minha mesa,
serve-se a saudade...
Cercada de bons vinhos,
um manjar branco e antigo,
suas arcaicas ameixas,
à sobremesa.
Em meu prato de porcelana,
herdado e fino,
degusto o passado,
um copo de lágrimas, de permeio.

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