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domingo, 30 de maio de 2010

Lavra-dor

Eliane F.C.Lima

Em mim, a única coisa que brilha
é o metal de minha marmita fria,
quando bate o raio de sol.
A única coisa que bebo
é o suor de meu rosto,
quando bate o raio de sol.
O único animal que vejo
são os chifres largados no chão,
quando bate o raio de sol.
A única árvore onde encosto
é um tridente seco,
quando bate o raio de sol.
A única coisa que falo
é “Vida, vida... “,
quando bate o raio de sol.

Mas matuto tudo,
mas espero tudo;
e todos os brilhos,
inclusive o da faca;
e todos os líquidos,
inclusive o sangue;
e todos os animais,
inclusive a cascavel;
e todas as madeiras,
inclusive a cruz;
e todas as palavras,
inclusive “Morte!”,
quando, à noite,
não bate mais o raio de sol.

domingo, 23 de maio de 2010

Dia de descanso

Eliane F.C.Lima

Como hoje é domingo,
como pelas beiradas o desespero,
evitando o em cheio do sofrido.
A alegria está impressa em todos os programas,
na praia, no cinema, nos churrascos.
A alegria é o espetáculo,
está clara no céu
e debaixo dos guarda-sóis.
Vibra nos pandeiros.
Não há dor aos domingos nos calendários.
Como hoje.

domingo, 16 de maio de 2010

De lama, mala e alma

Eliane F.C.Lima

Saio dessa lama
como um cachorro molhado
e me sacudo toda,
dissipando o sofrimento.
Pelo e alma limpa,
pego minha mala,
vou viver de novo.

domingo, 9 de maio de 2010

Renovação

Eliane F.C.Lima

Dedicado às minhas novas amigas Ju Rigoni e Renata A.S. Raposo, que mostraram o quanto meu poema era premonitório e feliz.

Sapatos novos é o que se quer,
e móveis novos sempre cheiram bem,
e roupas novas dão prazer e graça.
Amigos novos venham ao meu encontro,
que desses, pelo menos, guardo ainda,
a esperança nova da amizade

domingo, 2 de maio de 2010

Amor

Eliane F.C.Lima

Narcisa se debruça sobre o lago,
espelho verde, vítreo e cristalino.
Tudo é paz, e no silêncio de abandono,
umas folhas soltas, rumo vago,
umas sombras frias e sem tino,
por cima, uma flor boia sem dono.
Sorridente, ela já precisa
recolher negros cabelos com as mãos.
Mas surgem logo, de ouro, outros cabelos,
outros olhos como os seus tão sãos.
Se tão surpresa, vê, então, Narcisa,
louras madeixas que ela também quer,
dois rostos vivos n’água transparente,
aberto outro sorriso de mulher,
incontrolável, se apaixona de repente.