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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Serenidade

Eliane F.C.Lima

Neste momento há paz.
Pode ser o mormaço
ou as roupas no varal,
sobre fios do passado.
Têm cheiro de sabão,
sem requinte de perfume.
Só mansidão e sinceridade,
tremulam sua certeza.
Pode ser o vento,
franjando folhas compridas:
balançam tais verdes vizinhos,
inconscientes bananas futuras.
Podem ser os pardais,
resguardados de gaiolas,
seu plebeísmo, liberdade garantida.
Trilam e se perseguem,
voo de alegria, rotina própria,
valor do apenas pássaro,
flor castanha que atravessa.
Este momento é a tarde,
nuvens de quadros no céu,
vagamente vagabundas.
Nada, agora, é muito ou pouco.
O simples sempre é a paz.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Reflexões de aniversário

O dito

(Primeira reflexão de aniversário)

Eliane F.C.Lima

Caminhando, só olho o norte,
ninguém me peça para olhar para trás.
O que foi, foi. Passado não passa.
O passo caminha, sem medo de corte.
A vida é coisa que vai para a frente,
a vida viaja puxando a sorte,
e, boa ou má, só para com a morte.


A resposta

(Segunda reflexão de aniversário)

Eliane F.C.Lima

Nesta vida tenho caminhado
e nem a morte me há de parar,
porque sou "mar
nunca dantes navegado."

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Consolo

Eliane F.C.Lima

Aguardo o pacote da esperança
que o destino vai pousar em minha porta.
Espero que ela não esteja torta,
combalida e gasta da andança.

Se ela me chegar inteira e pura,
o corpo são, a alma sã, sorriso farto,
recebo-a nas mãos, como em um parto,
embalo em meu colo com ternura.

Se ela me vier com o rosto branco,
trêmula a mão, a fala vagarosa,
abraço a doente e, temerosa,
faço uma oração, o peito aberto e franco.

Mas, se ao abrir a tampa, o derradeiro
e trágico desfecho se abalança,
visto que a última que morre é a esperança,
choro por mim, pois já morri primeiro.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Autonomia

Eliane F.C.Lima

Amo urubus e pardais.
Esvoaçam sua cor monótona,
sem valores humanos.
Desprezo por faisões,
canários e rouxinóis,
gaivotas, seus voos pictóricos,
de quadros na parede.
Desdém pelo que se deixa explorar
por olhos, ouvidos e mãos,
apreendidos em gaiolas,
orquestras e pincéis,
garfos e taças de vinho.
Amo urubus, amorais,
círculos de malditos,
vagarosos e feios, fatais,
irreverentes com a estética celeste.
Pardais, insolentes e impunes,
sem medo de pessoas,
saltinhos nos muros,
desafio e incredulidade.
Pousam em todo lugar,
amarronzando os beirais.
(25-10-2009 - Observe a data. Compare-a com a matéria sobre João C.M.Neto, em meu blogue Literatura em vida 2 - clique aqui.)