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domingo, 23 de outubro de 2011

No fim da curva

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Depois que eu morrer
vou andar pelas margens de um rio,
vagarosíssimo, quase lago,
esverdeado do mato em volta,
enormes árvores,
com trepadeiras torcidas,
que pendem até o chão.
Vou sentar ali,
meio frio,
uma névoa presa em tudo,
e adivinhar gotas,
movimento imperceptível,
que pulam das folhas,
fim da noite,
orvalho da madrugada,
um círculo no círculo maior
e outro maior e outro...
Olhar agudamente,
que uma morta não tem pressa.
Ver uma folha seca,
que navega,
tranquilamente, nesse rio,
vagarosíssimo.
Se desejar, descer o rio
sentada na folha,
que uma morta não tem peso.
E ver outros lagos,
que a correnteza encontra.
Pouca luz do sol,
teimosia do céu,
que as árvores,
imensas e abraçadas,
filtram, mesquinhamente:
uma cortina, tênue e esgarçada,
quer macular o rio,
acompanhada de uma flauta de anjo,
se anjo e flauta houver.
Mas, no verde e na paz,
só silêncio,
que uma morta não precisa de som.

Ainda edito o blogue Conto-gotas (link) Literatura em vida 2 (link). Chegue até lá.

2 comentários:

Unknown disse...

Excelente, Eliane!


Tudo tão sereno e lindo, como " adivinhar gotas" e as explicações, que uma morta não tem peso, não tem pressa, não precisa de som!

DIVINO!

Parabéns!

Beijos

Mirze

Patricia Oliveira disse...

Lindamente você conseguiu passar todo sentimento de tranquilidade, mesmo mencionando a morte, coisa que quase todos temem, deve ser linda...assim, como você soube expressar tão magnificamente linda...
Parabéns!!!
Patricia Metzger
http://familiamarianopoesia.blogspot.com/
Com carinho...