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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Só amor

Eliane F.C.Lima

Sou uma flor quase branca
e macia, incrivelmente macia
e delicada,
que tem uma vertigem
ao imaginar o contato,
em suas pétalas,
da primeira gota de orvalho.
Uma flor que fugiu do lilás
e foge do sol,
que ama a sombra
e a noite só de sombras;
que deixa a tal gota de orvalho
a primeira -
ou, às vezes, a última - escorrer
para prolongar o prazer,
vagarosamente, em sua intimidade,
acariciando sua inefável,
intocável película.
Uma flor não amarela,
não branca,
mas suave e delicada,
que imagina que a gota de orvalho
é outra flor,
e é fria,
e o escorrer é carinho
dessa flor apaixonada,
dessa flor que escorre
e volta sempre,
ainda mais delicada
- se é possível -
e transparente,
que fugiu, definitivamente, do branco,
[do amarelo, do lilás, de qualquer cor.
A cada início de noite,
desse modo,
tem um estremecer,
ao imaginar
que é flor o que é líquido,
que é amor
o que é amor.

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